Contarei agora os dois lados da história: quem morreu e quem ficou.
Cansei dessa porra dessa vida,foda-se. Quero morrer. Tudo tá dando errado,ninguém colabora com minha situação,e agora tenho raiva de toda esta merda. Mas,não quero morrer e não ser lembrado por um bom tempo. Quero morrer causando impacto nas pessoas. Tenho um belo plano,o qual será feito com auxílio de um irmão,que partirá junto comigo.
Quero levar junto comigo várias pessoas; quando eu morrer,várias pessoas morrerão junto. Meu irmão também.
Estaremos,eu e meu irmão,em locais distintos na cidade. Mais precisamente,locais extremamente movimentados,cheios de gente muito próxima de nós. E,em horários de pico,para que se possa afetar o maior número possível de pessoas. Relógios sincronizados,estaremos cometendo os genocídios exatamente ao mesmo tempo. No meio da multidão,enquanto caminho,estou preparado para explodir. Tenho dispositivos e explosivos presos ao corpo,à espera do meu comando,para mandarem tudo para o inferno. Mas,tenho muita calma,apenas espero o momento certo. São 6:20 da tarde. Sei que meu irmão está do outro lado da cidade,com seus explosivos presos ao corpo como no meu caso,também esperando o momento certo. Estamos fadados a matar várias pessoas,e sairemos impunes. Para quem prefere não viver,é uma boa jogada,um crime sem punição.
O motivo de querer matar tantas pessoas comigo,é bastante simples,somos todos vítimas. As pessoas fingem que são felizes,inteligentes e ricas,mas poucos são. Ninguém vive feliz,todos são como robôs. Então,eu estaria fazendo um favor para todas estas pessoas que agora morrerão. Porém,há pessoas que gostam de viver. Há pessoas trabalhadoras,humildes; há pessoas batalhadoras,e que tem um medo gigantesco de perderem o que tem - quanto mais a própria vida. Porém,minha agonia é maior que tudo isso. Matarei a todas estas pessoas,eu sei que elas também merecem. Se pudesse,matava o mundo inteiro.
O celular toca. É meu irmão. Prestes a iniciar nossa última conversa. Do outro lado da linha,ouço uma voz tranquila e feliz,como se nada de diferente estivesse para acontecer dali a alguns minutos. Algumas palavras até felizes,em meio a risadas minhas e de meu irmão,de ironia a tantas pessoas que morreriam sem saber como e por quê. Imagine o trabalho da polícia,do IML,ou de qualquer outro filho da puta,cercados de corpos espedaçados e sangrentos; várias vidas a menos,naquele momento. Seria uma perda e tanto. Mas,não para mim,já que desta forma,seria até um jeito divertido de morrer. Seria mais divertido ainda se fizesse uma coisa dessas na Argentina,mas,quem nos deixaria entrar num avião cheios de bombas presas ao corpo?
Tinhamos uma ideia diferente no começo. Queríamos metralhadoras,iríamos aos mesmos lugares supermovimentados,e mataríamos quem estivesse ao redor. Depois de um tempo,quem sabe a polícia viesse a nos matar também.
Um bela ligação feita entre os celulares e as bombas,faria tudo explodir assim que a conversa entre mim e meu irmão fosse encerrada. Temos nossos últimos momentos de vida,e curiosamente,sem qualquer rastro de preocupação. Não voltaremos atrás. Até que,a porra do último som que pude escutar,foi um "beep",e tudo sumiu.
Já imaginou como deve ser morrer? Pense. Os problemas sumiriam,o stress sumiria,os pensamentos ruins,os medos,as aflições,as traições,brigas,raivas,agonias, tudo seria afogado,num mar de nada? Nada predominaria,é difícil explicar. Você não poderá pensar,não poderá ter mais nenhum prazer,mas também não terá nenhuma dor. Não terá voz,nem audição,nem tato,nem consciência... Não terá o que achar. Não terá o que entender. Sabe,é muito ruim pensar sobre como seria morrer,pois é impossível tirar conclusões,e será impossível tirar quando acontecer. Sei lá,eu tô chapado.
Mas sei que não farei diferença nenhuma no planeta se morrer,pois sou só uma partícula. E ainda,não colaboro com nada neste planeta, Sei lá,que se foda.
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